sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Reflexo-arrepio.


Aviso da Lua que menstrua.

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!

[Elisa Lucinda]

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

eu, recipiente.



ele me traz o universo...
arranca uns pedacinhos do céu; pede emprestado um pouquinho de sabedoria a algumas mentes geniais;
produz um estoque imenso de latinhas de amor [sabor chocolate]; empacota tudo, guarda no peito e entrega em domícilio com sorrisos irresistíveis de brinde.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

primeira pessoa do singular...


...desde recentes dias:
uma pieguice que toma de conta.
uma meninice que invade.
uma tolice que amedronta.
uma alma que canta e dança....

...ao som da mais doce, leve e instigante valsa.

sábado, 18 de outubro de 2008

"Por que se chamavam homens...

...também se chamavam sonhos..."

Sonhos passados e presentes;
enternecidos, obscuros ou esquisitos;
utópicos e revolucionários...
possíveis ou inatingíveis.

Sonhos doces, amargos, salgados...
sonhos da padaria, sonhos de loteria;
objetivos ou subjetivos;
íntimos ou espalhados pelos quatro cantos.

Dos mais impertinentes aos mais convenientes;
sonhos cinzas ou azuis.
dos efêmeros aos persistentes...

"...E sonhos não envelhecem."

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Gestos e preces.


Eu vou entregar pra Iemanjá...
eu vou pedir pra ela abençoar...

...esse amor que tudo constrói e tanto desfaz.
que enterra a dor e descobre sorrisos.
que engrandece e eleva.
que cria...essa vontade de ser maior;
Esse amor que já não enxerga, não ouve e emudece.
Esse amor que não finge, que não se curva;
que se desprende e se governa.

Eu vou entregar aos anjos...
vou solicitar que guardem...

...esse zelo. esse dengo.. esse medo da voz perdida, das mãos vazias e da sombra que caminha sozinha pela ruas...
a pieguice que se insinua. a meninice que persiste. a sabedoria que encanta. a verdade que se insurge.
Que os anjos acolham e que ensinem...
que é de hoje em diante; da morte ao renascimento; da dor à cura; do naufrágio à salvação. e que não se volvam o brilho dos olhos...

Eu vou guardar num pote de vidro...
vou eternizar....

...a suavidade do ser, enquanto o peito se inflama...
...de sonhos, planos, certezas e quadros - os que se pinta só, os que se pinta junto, os que se pinta amando.
vou eternizar as explicitações. as mãos dadas. os cheiros dos vários perfumes. as cores da timidez. os carinhos mais ardentes. o chocolate do liquidificador ou do cabelo que se exala. os tamanhos dos sorrisos [imensuráveis!]. as canções que embalam. as estripulias desarmadas. as almas entregues. a constante vontade de estar, de viver e de abraçar...

Eu vou manter no coração a pulsação mais forte e nos lábios a leveza mais terna do que já é conhecido pela humanidade inteira: o são-inconsciente estado de amar...

domingo, 13 de julho de 2008

Emptidão.


Pensar cansa.
E tudo pode virar pesadelo.
Antes eu sabia o que fazer, por onde ir, porque continuar....
...mas sabe quando as coisas começam a virar enigma?
E olhar pra dentro de si é a última das coisas que você escolheria fazer?

Porque abdicar é mais cômodo.
e o "deixa a vida me levar" ganha seu sentido...
Porque já faltam forças até pra questionar e sobra o medo das supostas respostas
dos rasbiscos do meu lápis;
da oficina da minha imaginação...

É. Tá certo...ninguém nunca disse que seria fácil.
Só queria viver em vez de sobreviver...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Pitadas de "rebeldia"...

[imagem: Liniers Macanudo]
...levemente distribuídas, perigosamente inflamadas.

Porque insistir em colher frutos de uma fonte esgotada? Todas as possibilidades já foram exploradas. Não teria como ser diferente...o horizonte já se concebeu limitado. Qualquer tentativa de exorbitação seria frustração certa ou confirmação de utopia. Não que utopias sejam ruins. Elas têm sua razão de existir. Mas em um caso assim, elas frustram porquem iludem...e pra esse horizonte não há mais extensões.

Talvez seja só mais uma situação de resignação: respeito às diferenças humanas. Fazer o quê se as impressões de mundo são diversas? Porque enquanto alguns condenam alteridade como ingenuidade, outros vêem no brilho do olhar de um vizinho a chance real de auto-satisfação. Por entre julgamentos e rótulos; verdades absolutas e pontos de vista metódicos/racionais, as percepções de pequenos mundos ou análise de micro-realidades se perdem...se ofuscam. O "legítimo" esmaga qualquer chance de o "possível" e "ideal" se manifestar.

Loucos ou tolos são os que se assumem em causas, que se identificam com sonhos ou que se fundamentam em razões desprovidas de "lógica", alheias a livros ou léxicos gramaticalmente fixados. Pagam como criminosos por se furtarem do comum. Padecem de sua "sanidade" fora do padrão, como vítimas de doenças sociais e afins.

O sensivelmente perceptível ficou piegas. E de pieguices vivem corações, como esmurecem na falta delas. De toques, melodias, risos e lágrimas almas se compõem e se sustentam. Há falta de sensatez nisso? Será mais adaptado o reprodutor de senso comum, pré-fabricado na selva? E psico-emocionalmente modificados os que de toque humano perecem? Felizes os que, ao som do silêncio, da "boa vontade" se enchem pra mascarar...mascarar o factual das sujeiras jogadas aos cantos, relegadas a segundo plano. Tão visíveis, tão cruéis! Obscuras, omitidas...

Humanos - aqueles que dessa condição não se esquivam - perdõem-nos! Eles não sabem o que fazem.

domingo, 20 de abril de 2008

blá blá blá simplório sensitivo auto-biográfico

[imagem: Liniers Macanudo]

Eu quero sentir o vento tocar minha pele...
e o sangue fervendo a cada solo de guitarra.
Eu quero mais pêlos arrepiados
e menos sono depois do almoço.
Porque a vida é aqui...

Eu quero mais respostas e menos perguntas;
eu quero mais conteúdo e menos lacunas;
eu quero vê mais minha imagem nos olhos alheios
e menos no meu espelho.
Já que o vazio do meu quarto não pode ser maior do que os sorrisos abertos
dos meus, dos seus, do mundo.
Porque a vida é agora...

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Aos "ismos" da humanidade.*


Achismos.
Aforismos.
Antagonismos.
Perfeccionismo.
faces de uma mesma moeda.

Homessexualismo.
Idealismo.
Absolutismo.
Coleguismo.
blé...tudo tão perjorativo!

Ativismo.
Puxa-saquismo.
Simbolismo.
Neologismos.
um monte de signos com o mesmo sufixo. Irônico!

Egocêntrismo.
Individualismo.
Egoísmo.
Umbiguismo.
sinônimos...ou derivados?

- Bom, meus queridos, na proxima aula discutiremos mais sobre a morfologia das palavras. Tenham um bom dia!

*Apologia direta a "Ize of the world" (The Strokes). Obrigada por proporcionar um siribolo de idéias e uma intersecção de línguas.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

...e deixo que a canção cante meu coração.


Meu Maior Segredo - Banda Haldeia
[Composição - Caio Ferraz]


Caso queira saber onde andei
Ao te responder, direi: não sei!
Estive por aqui e ali
Juntando os cacos e os pedaços
Das vidas que vivi

Andei girando o mundo pra entender
Que ele não gira em torno de você
Andei vivendo cada dia
Dançando com a morte, afim de te esquecer

[...]

Nem todos os meus sonhos e ideais
Nos muros que bati, deixei
Nem tudo o que fiz foi em vão
Só do dia em que nasci, até quando? Eu não sei...

Tenho feito muitas coisas
E algumas delas não são de se orgulhar
Mas fiz e não mudei
Por covardia ou medo
O meu maior segredo ainda sei
Por covardia ou medo
O meu maior segredo
É um dia acreditar que tudo vai mudar

segunda-feira, 17 de março de 2008

Rotina.


Veste-me com a melhor roupa.
Despe-me até a alma.
Finge. Desdenha. Insatisfaz.
O sol nasce sempre mais cedo.
E se põe na mesma velocidade.

Deturpa. Bagunça. Confunde.
Inebria. Encanta. Desencanta. Joga fora.
As mãos estão sempre vazias.
E o peito cheio de nada.
Um nada tão profundo...

Uma posse despossuída.
Só os olhos mais alertas podem ver.
O lixo se acumula. O lixo está no chão.
O chão é o limite. E o lixo se vai.

Em qual bueiro foi parar meu coração?

quarta-feira, 5 de março de 2008

Entre laranja e limão.


Minutos de um dia qualquer
Oh como eles podem ser doces e suaves!!
Como podem ser delicadamente traiçoeiros
e covardes...

Eles passam, sem consideração pelo que ficou
e pelo que ainda pode ser.
Quem disse que o tempo se preocupa com sorrisos, rugas, ou tentativas frustradas?
Ele responde, cura, antecipa, retarda, inconsequentemente. Mas passa.
Desfila pela dor, pela angústia, pela solidão...

Solidão...O tempo não lhe é páreo.
Nem importa quem é o vencido ou o vencendor.
Tempo e solidão são farinha do mesmo saco, células de um mesmo tecido.
Tão substantivos, que parecem palpáveis.
Tão abstratos, que sublimam. Tão reais e cruéis que torturam.

Quem sabe ser só, não teme o tempo.
Quem espera, não resiste à solidão.
Quem vive, se submete às inconstâncias do "Senhor da Razão"
e se sujeita aos dissabores do vazio inevitável.