Todos
os anos os mesmos parabéns, de homens e mulheres, pelo 08 de março, dia
internacional da mulher, dizem. Prefiro ressaltar que esse é, na verdade, um
dia em torno do qual as mobilizações, especialmente as populares, buscam
estampar em nossas caras a sociedade patriarcal que temos.
Pesquisas
recentes mostram que essa data foi escolhida e assim intitulada após uma
assembléia de mulheres que, cansadas da miséria e das condições humilhantes da
Rússia pré-revolução de 1917 a que se submetiam e que atingiam suas proles,
tomaram as ruas, gritando por “pão e paz”, contrariando, inclusive, o movimento
pré-revolucionário que se organizava e que, todavia, desconsiderava aquele
março como o momento estratégico para a eclosão das lutas.
De
rua em rua, elas passavam e tocavam a mãos de outras mulheres e homens,
suplicando-lhes que se somassem à sua mobilização, argumentando-lhes: “é por
nossos filhos.” Em poucas horas, as ruas e demais espaços públicos estavam
ocupados pelas classes populares, num episódio considerado o marco do início
dos atos da revolução socialista naquele país. Elas, mulheres, conscientes de
sua força, foram capazes de romper o silêncio, guiadas por seus corações,
desafiando seu tempo, levantando suas vozes contra a pobreza e desumanização.
É
desse 08 de março que quero falar: o 08 de março que nós, mulheres, vivemos
todos os dias, quando sobrevivemos à violência física e sexual que ousa se
manifestar baseada na sobrevaloração do desejo e da força masculinos,
vitimizando-nos e culpando-nos, simultaneamente; esse 08 de março que é tão
cotidiano quanto nossas superações de nós mesmas, frutos que somos da educação
que nos é transmitida, machista, dissimulada de correta, absurdamente
escravizante, definidora de nossos lugares e limites; esse 08 de março que
tantas vezes não nos alcança, porque somos duplamente marginalizadas, por
sermos pobres e mulheres; esse 08 de março que, milagrosa e corriqueiramente,
sobrevive a nós, que já não nos sustentamos sobre nossos próprios pés, de
cansaço do dia, do trabalho árduo, do leite das crianças, do conforto do
marido; esse 08 de março que ousamos comemorar no fim do turno, com amig@s,
bebendo umas cervejas, fumando alguns cigarros, que termina por nos
criminalizar, porque não somos santas, respeitáveis, mas putas; esse 08 de
março que tantas vezes significa abandono, desamparo, incompreensão,
exploração...
Não
quero recusar os parabéns. Pelo contrário, quero espalhá-los. Somos negras,
brancas, índias, mulatas, mestiças, índias, asiáticas, de cabelos soltos ou
não, somos sobreviventes de nossos dias, donas do nosso 08 de março.
Todo dia é dia 08 de março para nós, como naquele
histórico ano russo. Parabéns, companheiras.
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