Aprendi a ser só.
Aprendi porque me compreendia em
um mundo onde não conseguia me comunicar. Aprendi porque não conseguia
conversar racionalmente (e o mundo cobra racionalidade) ou porque nunca soube
dizer com a boca o que digo com/no papel. Aprendi porque não me aceitava e o
mais lógico, aparentemente, era que o mundo também não me aceitasse.
Com o tempo, aprendi (menos
dolorosamente) a estar só. Era bom descobrir que música me desinibia; conversar
sozinha, nos meus próprios termos; ser boa e gentil comigo, nas coisas que outros/as
não faziam por mim; realizar pequenos caprichos; rir só, chorar só; misturar riso
e choro sem parecer patética; estar em zona livre de medos e julgamentos. Era
bom testar minhas próprias teorias, construir o teatro de uma atriz só...
Mas estando só eu era só. E tudo
parecia ficção. Era tudo meu, mas o mundo não. Ele, essa coisa imensa lá fora, não
tinha nada que eu pudesse dizer: isto é onde eu pertenço. Era comum olhar pras
minhas mãos e percebê-las vazias. Foi ficando visível que eu estava vazia de
mim.
Descobri que, por mais concretas
que fossem as pequenas coisas de estar só, ser só é muito maior e mais
profundo. Minhas mãos precisavam de outras. Precisavam de mundo.
E que crueldade desse mundo! Somos
feitos sós, mas não para sermos sós. Contraditoriamente, embora feito de
solidões que se juntam e se dividem, o mundo é quem diz que o limite próprio de
ser é a solidão. O mundo também aprendeu a ser só.
Aprendemos a resistir e
desaprendemos de ser sós. Mesmo sendo só, o mundo chama, porque sabe que não
pode sê-lo. E então, nossas solidões vão se somando a outras. Até aquele
momento que se confundem ou não se acham. É quando nossa solidão sussurra: ‘preciso
estar só’.
Estar só pra me ouvir melhor, pra fazer um afago na alma, um melhoramento
aqui, um rearranjo acolá. Estar só pra me (re)conhecer, pra me concentrar, pra
me retomar e pra caminhar. Sim, pra caminhar, pois há caminhos que só se fazem quando
estamos sós.
Estou só, embora não seja. Estou
indo ao encontro dos desejos, dos mais supérfluos e dispensáveis aos mais
profundos. Mas sei que tenho hora de voltar, porque sendo só aprendi que não
quero mais ser e para tanto, preciso estar bem com minha solidão. Preciso estar
só.
Estou só, mas carregada de mundo.
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