quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Machismo, dor, lágrimas e a noite que alimentou a luta.



Muita, mas muita dor de cabeça. Foi o que me causou o filme Terra Fria (North Country), além de náuseas, inquietação, lágrimas copiosas e indignação. Eu assisti ao filme por acreditar que teria enfim um alívio pra enxaqueca que me perseguia desde o momento que o dia nasceu. Expectativa frustrada. Só me sobrou a tentativa de esbravejar (ainda com as mãos trêmulas) toda a dor, muito além da física, que esse filme deixou. 

Uma história real, ocorrida em 1989, no Estado de Minessota, Estados Unidos, no interior da Empresa Mineradora Pearson, cenário onde se passeia por toda sorte (pra não dizer desgraça) de manifestação machista que se possa conceber (ou não conceber). Superando o ambiente insalubre das minas, as opressões contra a mulher não se restringem ao espaço de trabalho, mas avançam pelos lares, estádio de hóquei, ruas, escolas, bares, mesa presidencial da Compania onde Josey (a protagonista da história) trabalha, a corte do Tribunal, além de, é claro, pelo corpo, pela pele e por toda a vida das vítimas mais diretas desses atos cruéis.

Esse post, que se pretende curto, só tem o intuito mesmo de reafirmação. Preciso reafirmar a necesssidade da luta feminista. Nunca, nunca mesmo, me senti tão ferida, tão humilhada na minha dignidade feminina como nas cenas desumanas que esse filme promove. Senti minha carne pisoteada, senti meu corpo ser violado, senti cada tapa na cara, cada mesquinharia dita ou feita e, juro, senti-me fraca, senti-me nada. Mas as lágrimas demasiadas não adiantam. Não servem de nada além de ratificar o mito do sexo frágil. As lágrimas só servem se acompanhadas da luta, da força da indignação capaz de nos levar, mulheres, todas, a um novo rumo para nossa história. 

Sou feminista. Tenho orgulho de ser mulher. De ter uma buceta entre minhas pernas, que NÃO, não está disponível a quem quiser tê-la, mas pra quem eu quiser dar. Quero e tenho o direito de trabalhar, de cuidar de mim, de gozar dos benefícios que a vida pública tem para me oferecer. Quero ter a liberdade de sair na rua sem ter medo do que possa me acontecer, sem temer a fúria ou a possessão sexual doentia de outrem, não importa que roupa eu vista. Não, não aceito o lar, o marido e os filhos e/ou filhas como meu destino, mas como possíveis escolhas. Quero ter a liberdade de me embriagar e não, isso não significa que quero ser estuprada. Quero a liberdade de fala, de pensamento, de comportamento, de lugar no mundo. Eu e toda e qualquer mulher.

A minha lágrima não é minha. É de todas nós. Chorei sim e derramarei litros cada vez que sentir no meu corpo a  dor de outra mulher, ou ver nela os olhos inchados, seja das noites em claro e sob o pranto, seja pelo abuso da força, da violência. As minhas lágrimas de hoje são só parte do meu reconhecimento e da minha solidariedade, que prefiro ter por irmandade, à luta histórica de tantas mulheres por respeito e dignidade.

P.S.: o trailler não achei legendado. o vídeo fica apenas como demonstrativo, muito tímido, frise-se, do turbilhão que o filme provoca.

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